Estamos acompanhando, nos últimos dias, o debate sobre a
alegação de racismo nas linhas escritas por Monteiro Lobato. E a audiência
de conciliação entre
representantes do Ministério da Educação, da Secretaria de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e os autores da ação contra o livro
Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, terminou sem acordo.
Fiquei pensando sobre isso. Já aconteceu comigo um fato que
muito tenho desafeto, quando fui acusado, de modo inverídico, de cometer algo
como racismo, pois bem, os fatos não se assemelham, porém quero propor uma
reflexão.
Eu não quero aprofundar os detalhes que moveram a Seppir ou
os autores, mas lembro-me uma fala da atriz Whoopi Goldberg que
disse algo assim: “não sou afrodescendente, sou americana” se referindo que
para ser a pessoa que ela é não precisa fundamentar sua história genética, mas
que ela faz parte de uma cultura presente em diversas cores de pele. Concordo
com essa nova-iorquina, sem que isso pareça desmerecer a luta reivindicatória
de um grupo marginalizado por séculos que ainda sofrem com o velamento das
ideias desiguais e de supremacia colonial!
O que mais me permite refletir hoje, não é a discussão do
tema racial, mas o fato de que é esse o caminho? Porque enquanto há essa
preocupação de “processar” Lobato, continuamos a aplaudir novelas que humilham negras
como empregadas domésticas, que mostram, em meio a risos, a falta de respeito a
mulheres nos transporte públicos, também damos alto índice de audiência a músicas
que dizem que a mulher serve para o “fundo” de carros ou troféus em caras
camionetes, ou pior ainda, o “machão” caçador que se arma de todo poder
econômico para “pegar as mina”!!!
Tenho medo dessas atitudes. Claro que não estou nivelando
nenhum dos assuntos, que têm sim sua validade e merecem ser avaliados; o que
quero afirmar é sobre o contrassenso e o vale entre as discussões reais e
irreais, ou melhor, uteis e inúteis.
Dizer que Pedrinho nutre, pelas palavras de seu autor,
preconceito racial é mais que descabido, afinal, pelo que sei, os livros seriam
usados em escola, e por isso haveria um educador que estaria extraindo da
leitura, junto com os estudantes, as nuanças e sentidos. Lembro bem do meu
professor de literatura que “esquartejava” os livros e nos dava chaves de
leitura, sentidos e outras coisas além das palavras contidas nas linhas. Seria,
em minha opinião, mais sensato uma discussão para tantas outros fomentadores de
reflexão, como a imagem das pessoas negras nas novelas, igualmente as mulheres
e os homens machistas, o papel sexual das pessoas, ou até a relação entre
empregados e patrões, pois acredito que esses espaços influenciam mais que os
livros escolares (para minha tristeza).
Por isso, reforço que sou completamente contra a qualquer
forma de segregação (racial, sexual, religiosa ou qualquer fonte), mas penso
que a leitura de um livro requer, obrigatoriamente, a atualização de
informação, não é? Essa obra de Monteiro foi escrita em 1933. E as tais
novelas, músicas e programas humorísticos?
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