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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

E os discípulos de Emaús

Lc 24,13-35
De acordo com o autor do nosso texto, os dois homens dirigiam-se para uma aldeia chamada Emaús, a sessenta estádios de Jerusalém (cerca de 12 quilômetros). Uma localidade com esse nome, a essa distância de Jerusalém é, no entanto, desconhecida… Pensou-se que o texto poderia referir-se a Amwas, uma localidade situada a cerca de trinta quilômetros a oeste de Jerusalém (alguns manuscritos antigos não falam de sessenta estádios, mas de cento e sessenta estádios, o que nos colocaria no local certo); no entanto, parece ser uma distância excessiva para percorrer num dia, sem paragens e a conversar despreocupadamente. Os comentadores destacaram, muitas vezes, a intenção teológica deste relato. Que é que isto significa? Significa que não estamos diante de uma reportagem jornalística de uma viagem geográfica, mas de uma catequese sobre Jesus. O que interessa ao autor não é escrever um relato lógico e coerente (se Lucas estivesse preocupado com a lógica e com a coerência, teria mais cuidado com a situação geográfica de Emaús; e, certamente, explicaria melhor algumas incongruências do texto – nomeadamente porque é que estes discípulos partiram para a sua aldeia na manhã de Páscoa sem investigar os rumores de que o túmulo estava vazio e Jesus tinha ressuscitado). O que interessa ao autor é explicar aos cristãos para quem escreve – na década de 80 – como é que podem descobrir que Jesus está vivo e como podem fazer a experiência do encontro com Jesus ressuscitado. Trata-se, portanto, de uma página de catequese, mais do que a descrição fiel de acontecimentos concretos.

O mestre encontra dois andarilhos, indaga-os, ouve-os e lhes fala da Palavra...

Ao partir do pão eles o conheceram
“Não ardia o seu coração enquanto ele nos falava” – com essa frase Cléofas chama atenção de outro discípulo sobre o fato de perceber que era Jesus, como uma idéia de justificativa. Os três (Jesus, Cléofas e o discípulo não identificado) chegam, finalmente, a Emaús. Os discípulos continuam a não reconhecer Jesus, mas convidam-n’O a ficar com eles. Ele aceita e sentam-se à mesa. Enquanto comiam, Jesus ”tomou o pão, recitou a bênção, partiu-o e entregou-lho”. As palavras usadas por Lucas para descrever os gestos de Jesus evocam a celebração eucarística da Igreja primitiva. Dessa forma, Lucas recorda aos membros da sua comunidade que é possível encontrar Jesus vivo e ressuscitado – esse Jesus que por amor enfrentou a cruz, mas que continua a fazer- Se companheiro de caminhada dos homens nos caminhos da história – na celebração eucarística dominical: sempre que os irmãos se reúnem em nome de Jesus para ”partir o pão”, Jesus lá está, vivo e atuante, no meio deles.
A última cena da nossa história põe os discípulos a retomar o caminho, a regressar a Jerusalém e a anunciar aos irmãos que Jesus está, efetivamente, vivo. A catequese dizia que Ele estava vivo; mas no dia a dia de uma vida monótona, cansativa e cheia de dificuldades, era difícil fazer essa experiência. As testemunhas oculares de Jesus tinham já desaparecido e os acontecimentos da paixão, morte e ressurreição pareciam demasiado distantes, ilógicos e irreais. “Se Jesus ressuscitou e está vivo, como posso encontrá-lo? Onde e como posso fazer uma verdadeira experiência de encontro real com esse Jesus que a morte não conseguiu vencer? Porque é que Ele não aparece de forma gloriosa e não instaura um reino de glória e de poder, que nos faça triunfar definitivamente sobre os nossos adversários e detratores?” – perguntavam os crentes das comunidades lucanas.
É a isto que o catequista Lucas vai procurar responder. A sua mensagem dirige-se a esses crentes que caminham pela vida desanimados e sem rumo, cujos sonhos parecem desfazer-se ao encontro da realidade monótona e difícil do dia a dia.
A nossa narração apresenta o esquema litúrgico da celebração eucarística: a liturgia da Palavra (a ”explicação das Escrituras” – que permite aos discípulos entenderem a lógica do plano de Deus em relação a Jesus) e o ”partir do pão” (que faz com que os discípulos entrem em comunhão com Jesus, recebam d’Ele vida e que O reconheçam nesses gestos que são o ”memorial” do dom da vida e da entrega aos homens).
Há ainda uma última mensagem: depois de fazer a experiência do encontro com Cristo vivo e ressuscitado na celebração eucarística, cada crente é, implicitamente, convidado a voltar à estrada, a dirigir-se ao encontro dos irmãos e a testemunhar que Jesus está vivo e presente na história e na caminhada dos homens.

Hoje eu pergunto: você tem seu coração de que forma? Ele arde? Ele esfria? Os discípulos sentiam o coração ardendo, mas não permitiram a consciência. O texto parece fazer um contraponto entre razão e sentimento: antes a razão estava ofuscada, o que impediram de ver que era Jesus, depois o sentimento que não encontra acolhida e eles não reconhecem que Jesus é causador do fogo interior!
Jesus é reconhecido na partilha do pão!
A Eucaristia é fruto comunitário. A Eucaristia constitui um dos núcleos de nossa fé e da nossa esperança, onde vive e se experimenta a história da salvação e o nosso se faz presente de forma especíalíssima. Aí se alimenta a comunidade eclesial e missionária. Comendo o corpo e bebendo do sangue ela se torna corpo místico de Cristo.
Tomemos: 1Cor 11, 23-27 (relato mais antigo da eucaristia)
Jesus muitas vezes, jantou com os seus discípulos, nas caladas da noite, após as jornadas de trabalho cansativo e, tantas vezes, conflitos, no contato com o povo, anunciando-lhe o Reino de Deus, curando enfermos e discutindo com os seus inimigos. Eram momentos preciosos. Ao redor da mesa, a conversa, o comer, o beber, a retomada do dia e a coleta das impressões, dúvidas, alegria, descobertas e aprofundamento dos ensinamentos dados ao povo. Os discípulos se sentiam bem. Tanto assim que não abandonavam o mestre. Eram refeições religiosas. Tinham um pouco da antecipação do Reino. Refeições como pontos altos da convivência com Jesus. Havia sempre a bênção conforme o costume dos judeus. A última ceia de Jesus com os seus está relacionada com este contexto, como objetivo do anúncio do Reino.
Discípulos de Emaús, resumo das principais idéias do evangelho de Lucas e da sua perspectiva teológica. Lucas quer sublinhar a presença nova do ressuscitado, diferente da terrena e pré-pascal. Embora se trate do mesmo Jesus de Nazaré, agora sua presença é experimentável pela comunidade cristã em chaves novas: a proclamação da Palavra (24,32): a fração do piro (14,35). sem esquecera própria comunidade (quando voltam à comunidade de Jerusalém. encontram a experiência do seu testemunho sobre o Ressuscitado: 24, 33-34).
Na eucaristia celebramos o mistério pascal de Cristo. Pelos sinais do pão e do vinho fazemos o memorial desse mistério e, através dele, somos transportados para o evento fundador da história da salvação: a morte e ressurreição de Cristo, graças às quais participamos da vida trinitária.



quarta-feira, 10 de abril de 2013

O dia mais Feliz de minha vida



A vida é cheia de surpresa! Em cada momento descobrimos passos que nos levam além dos limites, por meio de nossas descobertas e nossas conquistas. E nessas descobertas criamos nossos meios de realizações que nos (pre)enchem de felicidade.
Desde pequeno ouvia o adágio popular: “um homem realizado é aquele que: planta uma árvore, escreve um livro e tem um filho”. E como mágica, esse pensamento acompanha como uma meta e um lembrete. Já colhi frutos da minha árvore! Já escrevi, então me faltava...
Ser feliz é muito mais que conquistar ou criar, ser feliz, para mim, é dar sentido ao que nos rodeiam. Isso me faz lembrar a história de Esmirnia, uma catadora de lixo que teve sua biografia filmada no documentário homônimo. Ela vivia em meio a lixos, bichos e devaneios e não demonstrava o menor ponto de felicidade, porém tudo isso sob os olhares exteriores. No entanto quando à personagem é dada a fala (quase onisciente) a contradição é revelada: mesmo imperceptível ao senso, era muito feliz, pois se sentia realizada, o que poderia questionar nossa classificação.
Penso isso quando me lembro da pergunta: qual foi o dia mais feliz da sua vida? Uma questão tão comum, mas com alta complexidade devido ao fato de que a vida sempre surpeende. No entanto hoje eu tenho o dia mais feliz da minha vida! E não num limite de 24 horas.


Quando vi a beleza que um filho nos dá, quando senti no colo o calor de um abraço, mesmo que involuntário, mas que se traduz em afago e de necessidade de defesa e proteção. Meu dia feliz está marcado com o nascimento de meu filho, e na significação de todos os outros dias posteriores a este. Nada em minha vida permaneceu igual, aliás, quase nada, pois meu nome e minha identidade ainda são os mesmos.  Mas meu sorriso mudou, meu cansaço, minha alegria, meus caprichos, minhas energias e tantas coisas mais.
Meu dia mais feliz se transformou em DIAS sucessivos, sinto a mesma magia a cada amanhecer, a cada fralda trocada, a cada gesto novo que tentamos adivinhar! O dia mais feliz de minha vida é renovado a cada ciclo e ainda me pergunto se é o dia “mais” ou se já não foi superado pelo instante seguinte. Continuo achando que felicidade é construção, é variante, mas já sinto que onde estou hoje nunca estive e minha felicidade, pode ser maior, mas nunca foi como é! Obrigado, é o que sei dizer e o que posso sentir!
O dia mais feliz de minha vida é o meu hoje com aquele que veio há 30 “ontens” atrás, e ficou perene nos dias seguintes.